À
beira de um colapso, estamos, diria um personagem de ficção
científica. Mas não houve ficção que tenha chegado perto de
imaginar que o macaco pós-moderno quer mais é
tchu-tchá-tchá-tchu-tchu-tchá. E não há ficção capaz de
adivinhar o que poderá vir depois disso.
Mas
prever o futuro, bancar o profeta, talvez não seja tão difícil
assim. Parece que o futuro tende a ser meio parecido com o passado.
Com um pouco de imaginação, não é difícil visualizar um bando de
símios ao redor da fogueira, entoando cânticos rituais primitivos
que culminam numa enorme suruba. Seriam bons tempos, esses. Mais
sinceros.
Neste
exato momento, sexta-feira, os símios contemporâneos preparam-se
para o ritual do pássaro de metal (aquele velho DC-3, abandonado à
beira da RS 470). Tribos em torno de seus totens. Nada muito
diferente, em essência.
E
por falar em ancestrais e fogueiras, há um posto de gasolina
naquelas bandas...
"Fogueira
grande agrada os deuses!"
Mas,
imaginem, o colapso nunca chega. É sempre promessa, desejo e
sensação. É só aflição e caos, de geração em geração.
Em
meio a essa divagação, o alto-falante informa:
-
Atenção, passageiros! Dentro de dez minutos atingiremos a
velocidade da luz. Nessa ocasião, é comum sentir enjoos ou náuseas.
Afivelem os cintos de segurança e mantenham as poltronas na posição
vertical.
O
universo é caótico. Uma nuvem de caos absurdamente imprevisível.
Quando chegamos perto de observar qualquer padrão de comportamento
em sistemas complexos, como a Bolsa de Valores, a mãe Natureza (que
já era senhora dos átomos, antes da questão piegas dos animais em
extinção) nos prega uma peça e inverte os caminhos. Terabytes de
cálculos em vão.
-
Deixe essas coisas pra lá,
amor. Vamos dormir um pouco!
Quanto
ao futuro, desconfio de quem arrisca previsões. Mas ouço com
atenção quem não se apega a detalhes, quem se propõe a falar de
essências...
-
Sim, amor. Já estou indo.
- Senhores passageiros, informamos que acabamos de ultrapassar a
velocidade da luz. Nossa nave continuará orbitando o sol e nossos
sensores continuarão apontados para a Terra. Informamos, ainda, que,
segundo nossos cálculos, a humanidade acabou de entrar no século
XXII. Lembramos a todos que, deste ponto em diante, não é mais
possível obter reembolso dos valores investidos, uma vez que é
impossível retornar os 90 anos percorridos nos últimos instantes.
Já é possível soltar o cinto de segurança e reclinar a poltrona.
Para chamar a comissária do bordo, pressione o botão laranja. A
Timeline Viagens do Futuro agradece a preferência e deseja a
todos uma boa viagem.
O sistema de som ambiente toca uma canção: “um amor assim
delicado / você pega e despreza...”
Abril
de 2013. Uma TV. Um noticiário. O apresentador fala sobre máquinas
capazes de viajar no tempo. “Em menos de vinte anos...
cientistas... consórcio internacional...”. Sono. Cama. Sonhos.
Ruídos desconhecidos na rua. Passos. Pessoas. Celulares. “Amanhã
é sábado...”
No
outro lado da cidade uma igreja anuncia o fim dos tempos. Como
sempre. Há uma pequena plateia de dez ou doze pessoas ouvindo
atentamente as palavras de um pastor, que repete as palavras que
ouvira de um mendigo na capital, que, por sua vez, acredita tê-las
recebido de um anjo com nome hebraico, difícil de pronunciar.
Pensando
bem, essa sensação (de fim dos tempos) é perene. Talvez tenha a
ver com aquela bobagem de “instinto de morte” de que Freud, se
não me engano, falava. Se houver um “fim dos tempos”,
possivelmente seremos os seus autores (mas isso também é
lugar-comum. Preciso mesmo dormir um pouco.)
Ao redor do sol, a nave, com seus cento e quarenta e quatro
passageiros e sua tripulação robotizada, continua a orbitar numa
velocidade absurda. O tempo e o espaço em torno se comprimem e a
humanidade conhecida vai ficando para trás.
- Atenção passageiros com destino ao ano 2916. Dirijam-se às
cápsulas de desembarque em 10 minutos. Passageiros com destino a
2916 – cápsulas de desembarque. Obrigado.
As cápsulas são lançadas da nave em direção à orbita da Terra.
Elas são programadas para reduzir a velocidade durante o trajeto, de
modo a orbitar o planeta em velocidade normal. Automaticamente, a
cápsula entra na atmosfera e aterrissa numa plataforma de
desembarque da Timeline Viagens do Futuro.
A porta se abre lentamente. O pequeno grupo de viajantes, perplexos,
olha para fora da nave, com medo do que podem ver. Mas não há nada
de assustador. Ainda existem seres humanos (os pastores estavam
errados), e um grupo deles (dos humanos), provavelmente da Companhia,
está em frente à nave, dando as boas vindas aos viajantes, cantando
e dançando.
- Não sei direito o que mudou nesses 900 anos, mas ao menos nos
livramos daquele tal de tchu-tchá-tchá-tchu-tchu-tchá.
Ao ouvir isso, um dos dançarinos da empresa para de dançar, olha
fixamente nos olhos do passageiro e declara com ar de espanto:
- Vocês conheceram o poderoso deus Tchu-tchá-tchá-tchu-tchu-tchá!!
E todos curvaram-se diante dos viajantes do tempo.
Hahahaha! Dei risada.
ResponderExcluirMas, agora sério, alguém me explica que porra de tchutchação é essa?
kkk, procura no Google, amigo símio! Você vai se arrepender, mas tudo bem...
ResponderExcluir