quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma pequena pausa (e uma grande dúvida)

Obs.: Quando me sentei em frente ao computador, a ideia era discorrer sobre como 200 metros de asfalto sobre um punhado de ruas já calçadas poderiam trazer mais qualidade de vida (?) para o barbosense. Porém minha musa inspiradora me disse que não vale a pena discutir com os homens-carro.

Por isso, fica valendo o texto a seguir, que é mais pertinente e não agride a inteligência do leitor (aquele que tem cabeça e pés ao invés de faróis e rodas).



UMA PEQUENA PAUSA (E UMA GRANDE DÚVIDA)

Os vegetarianos também precisam de carne, dizem...


Entre contos, opiniões e histórias, decidi fazer uma pequena pausa para o que poderíamos chamar de uma breve reflexão sobre o sentido de escrever, mesmo sabendo que isso trará mais dúvidas do que respostas.

Tenho observado que tem sido comum "escritores" como eu transformarem seus espaços paranoico-pseudo-democráticos-cibernéticos (ou blogues) em uma espécie de analista gratuito onde, eventualmente, destilamos nossas angústias e frustrações para a eventual e prazerosa leitura de outros paranoicos cibernéticos - leitores que, por coincidência, compartilham da nossa visão de mundo (ou parte dela), visão esta que não é exagerado chamar de ideologia.

Sendo assim, a pergunta que dirijo a mim mesmo (e a quem sentir-se apto a responder) é a seguinte: Que efeitos a minha escrita (e a sua, e a de qualquer blogueiro) produz em meus (seus) leitores? Não no leitor amigo, mas no estranho? Leitores desconhecidos e conhecidos desafetos?

E, por extensão: Por que escrever?

De que adianta falarmos das boçalidades de um Bolsonaro, dos anacronismos de um Casamento Real, dos crimes internacionais cometidos pelos Estados Unidos (ou não, vá lá, há liberdade para isso também...) se estamos falando para nós mesmos e para nossos pares? Seria essa prática de escrita nada mais do que uma espécie de masturbação coletiva? Até que ponto um pequeno texto como este, perdido nessa vassalagem que é a Internet, tem um poder maior do que o de agrupar formigas ou o de atrair os aplausos dos meus seguidores e as vaias dos detratores?

Por outro lado, poderíamos estar escrevendo sobre orquídeas. Automóveis. Decoração. Escrevendo algo útil, como já me disseram. São dois extremos que, se não se tocam, se observam de longe, pensando um no outro e reconhecendo, com vergonha, algum parentesco.

Entretanto, enquanto me faço essas perguntas, conscientizo-me de minha atitude contraditória (mas que me desobriga a falar de orquídeas) e assumo que minha personalidade se recusa a cruzar os braços e crer na fatalidade das coisas. E, além do mais, (e embora não pretendo salvar o mundo) prefiro acreditar que, de algum modo, esse trabalho de formiga escrevente vale mais a pena do que o de crítico de decoração. Prefiro acreditar que talvez ainda exista algum indeciso por aí esperando só um empurrãozinho do acaso para topar com algum texto interessante que o faça desligar a TV e pegar o controle remoto do seu pensamento, nem que seja por quinze minutos, numa ida qualquer ao banheiro (e nem que seja, ainda, para pensar que é livre para apensar). E se for através de textos melhores, melhor.

Enquanto isso, sigo curtindo a minha liberdade de pensar que estou fazendo a minha parte (ou ao menos parte dela). Continuarão acontecendo bizarrices (locais, regionais ou universais) que me deixarão com vontade de botar o meu lado satírico para trabalhar, porque, afinal, também faço parte desta tragédia. E enquanto os deuses não esclarecem minhas dúvidas, posso permanecer nessa brincadeira de acreditar porque, afinal, o mais legal desse jogo é acreditar que a realidade também é uma ficção. Ficção não somente de autoria da indústria do notícia, indústria da verdade (porque a verdade é, sim, um produto para se vender). Nesse jogo, prefiro crer que nós, escrevedores de blogues incompreendidos, também somos ficcionistas. Ao menos nos esforçamos para tal e, enquanto esse analista cibernético for relativamente acessível, tanto melhor para nosso frágeis egos.

Quanto às respostas, por enquanto me viro com esta (é provisória e me ocorreu agora): Escrevemos porque temos fé. Fé em nossa frágil ficção, porque esta nos constrói.

Agora, se me permitirem, retiro-me para observar a paisagem. Vou apreciar os pneus rolarem silenciosos pela mais nova rua asfaltada da cidade. E os problemas de verdade, que fiquem onde estão: escondidos nas entrelinhas de outros textos.

8 comentários:

  1. Puta merda cara, tu escreve pra caralho meu!!!

    Cedenir, Cedenir, é o cara que diz!
    Cedenir, Cedenir, sou o seu aprendiz!!
    Cedenir, Cedenir, é um homem de fé
    Cedenir, Cedenir, é melhor que o Pelé!!!

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  2. Mein Gott, começou a tietagem...

    Olha, é legal demonstrar que gostou de alguma coisa, mas seria melhor fazer isso me pagando uma Bohemia, hehehe.

    Ah, e vê se clica nos botões de seguir e compartilhar uma vez... acho que lá em Barão eles funcionam também, hehehe.

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  3. É, se algum dia eu pensar em escrever algo sobre por que escrevo, vou apenas criar um link pra cá.
    Tá dito o que precisa ser dito. E não deixemos de acreditar em nossas pequenas insignificantes utopias.
    Ab,
    A

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  4. Caralho! O blogue está atingindo a marca de 700 acessos! Sinto-me orgulhoso por ter sido um dos teus primeiros leitores!

    Mais um pouquinho e vais até começar a ser criticado publicamene pelo que escreve!

    Que sonho!

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  5. É, são 700 acessos, mas talvez não mais que 70 leituras mas tudo bem.

    Quanto a ser criticado publicamente, é só não utilizar a palavra "chevette" que está tudo bem. Você se lembra que, há uns quinze anos, quase malharam um cronista nosso (que era muito bom, por sinal)porque alguns proprietários de chevette não entenderam direito o texto?

    Escrever é foda, é quase como ter um vídeo de você fazendo sexo perdido na web...

    Abraços macaquescos!

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  6. Cede, tu é um cara perigoso, por isso sempre venho aqui. E viva a liberdade de expressão.

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  7. Comentar o meu próprio texto é um gesto egoísta, sobretudo se a pauta é retardatária. Mas não resisti e sinto necessidade de deixar registrado: estava relendo esse texto e quando vi "homens-carro" não pude deixar de lembrar de um "cidadão consciente" reclamando com o secretário de obras e viação que tal rua tinha que ser arrumada, porque quando chovia, tinha um trecho de 50m sem calçamento que deixava embarrado os carros de todos os moradores do bairro - e nós aqui no trabalho comprando briga até com o diabo pra tentar ampliar o atendimento psiquiátrico do posto de saúde, que é bem limitado.

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