quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma imagem vale mais que mil palavras...

 
Imagem: Jornal Contexto, 20/02/2010

Que fique claro: não estou acusando nenhum jornal e nenhum dos seus profissionais de atitude preconceituosa. Apenas estou utilizando a ilustração para fazer uma reflexão. Faço essa observação porque, como sabemos, não existe preconceito no Brasil.

Ocorre que, dia desses, li um artigo que falava sobre a enorme quantidade de peças publicitárias mostrando pessoas brancas num país que, segundo dados do IBGE, já é composto majoritariamente por negros e mestiços. Quando se fala em publicidade, entende-se que o público deve se identificar com as imagens, se eu não estiver enganado (que algum profissional da área me ilumine, ou não durmo essa noite). Enfim, o artigo falava das peças publicitárias, da esmagadora presença de brancos nas novelas da Rede Bobo (que são assistidas por uma maioria negra) e coisas assim. Ocorreu-me (deixando de lado as novelas) que na nossa região, negros e mestiços são, de fato, minoria. Somos predominantemente descendentes de imigrantes italianos, alemães, poloneses e blá, blá, blá (como nos vêm ensinando desde a terceira série). Portanto, nada mais lógico do que olhar para aqueles outdoors na 25 de setembro e deparar-se com a imagem da branquíssima modelo da propaganda de roupas íntimas e com a foto da bela equipe de atendentes das Lojas Lebes, cujos traços não deixam dúvidas: são barbosenses.

E a imagem do jornal? Simples: era preciso uma imagem para ilustrar a manchete, e o ilustrador é livre para desenhar o que quiser. Isso não quer dizer que ele seja preconceituoso (eu acho). Eu gosto de imaginar coisas: Talvez alguém tenha advertido, antes da publicação: "mas será que não terá algum xarope que vai achar racismo nisso aí?", e outro: "só se for um daqueles malucos que defendem as cotas nas universidades...", e mais outro: "má  che, má donde que questo é racismo, Madonna de Dio! Cuida que se tu desenhá um gringo ele vai te processá também há há, há, há...". E no fim, a imagem saiu, e mostra um negro, atrás das grades, aplicando um golpe pelo celular numa inocente mulher de olhos azuis.

Recentemente, uma professora iluminada disse que "ninguém é preconceituoso de propósito, porque ninguém é ignorante de propósito". Devemos ficar atentos, não para levantar o dedo e apontar: fulano é racista; mas para levantar a voz contra atitudes que paulatinamente vão construindo uma representação falsa da realidade. Atitudes que "criam" a própria realidade, o imaginário coletivo. Se as imagens não tivessem o poder de criar, na mente de quem as vê, determinada ideia ou conceito, toda forma de propaganda se resumiria em duas ou três palavras em Times New Roman, e não precisaríamos de outdoors imundos ou dos comerciais idiotas das Casas Bahia. Tampouco precisaríamos de ilustrações nas áginas dos jornais.

Sobre preconceito, Guacira Lopes Louro, no livro Um corpo estranho, diz que uma imagem pode não ser, necessariamente, preconceituosa; mas pode estar afiando as facas da intolerância. Hum... isso dá o que pensar.




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