quinta-feira, 11 de março de 2010

Oscar: um desserviço à humanidade


Podem me criticar, pois estou apedrejando o vencedor do Oscar, Guerra ao Terror, sem tê-lo assistido. Baseei-me apenas no trailer disponível no YouTube. O correto não seria assistir ao filme para depois criticá-lo? Talvez não, porque “merda a gente identifica pelo cheiro”. Diferente de um copo de vinho, não é preciso perder tempo levando-a à boca para saber do que se trata.

Num trailer de menos de dois minutos, tudo o que vimos não foi mais do que um grupo de soldados (norte-americanos, como sempre) dedicando suas vidas à nobre tarefa de desarmar bombas plantadas por terroristas malvados. Só isso. Essa é a ótica maniqueísta e infantil do vencedor do Oscar. Para mim, não passa de mais um filminho, em que, mais uma vez, os americanos salvam o dia. Nenhuma palavra sobre o porquê dos atentados, tampouco sobre o porquê daquele trabalho. Nada sobre o antes ou o depois. Dramas, motivações... nada. Só a adrenalina (ou o sono, dependendo do espectador) provocado pelas explosões e algum sentimentalismo piegas com relação às famílias dos soldados que esperam o retorno dos heróis. Nada mais do que isso. E não falo só do trailer, mas de toda a publicidade do filme, que segue a mesma linha, o que leva a crer que, de fato, o filme não passa disso.

A imprensa local taxou Avatar (que é somente uma história sobre colonização) de infantil, inocente e simplista. Houve até quem o adjetivou de moralista e ecologista. Paciência. É verdade que Avatar é só efeitos especiais (diversão rápida e fácil para um sábado à noite), e que também não mereceria nenhum prêmio relevante; mas ao menos me fez lembrar, por incrível que pareça, do “descobrimento do Brasil”, com todos os interesses portugueses estuprando os então habitantes locais. Apesar do final-feliz-e-bobo de sempre, Avatar não foi tão fantasioso como parece. Mas o que me intriga é o seguinte: será que essa Ode ao Imperialismo chamada de Guerra ao Terror será jogada no mesmo saco de “filmes de fim-de-semana” em que colocaram Avatar? Alguém vai acusar esse documentário de ser simplista e de não ter “profundidade”? Existe algo mais clichê do que a velha receita do mocinho-e-bandido inventada nos Estados Unidos e reafirmada a cada filme?

Poucos irão reclamar desse filme, pois todos gostam do que gosta o Rei. Todos assistem ao que o Rei assiste. E o Rei recomendou formalmente, através do Oscar, Guerra ao Terror, enquanto que por aqui (e pelo resto do mundo) esquecemos que um filme bom não precisa de um orçamento milionário, nem de toneladas de efeitos especiais, e, menos ainda, do Oscar. Quando esse filme cansar de faturar nos cinemas, vai passar gratuitamente na “Sessão da Tarde”, concluíndo assim o seu ciclo e a sua tarefa de colonizar, cada vez mais, o nosso pensamento, apesar das hipotéticas boas intensões.