segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sobre Paulo Coelho (uma breve e provisória conclusão)

Representantes de uma época.

Há pessoas mais equilibradas, menos radicais, que preferem manter-se numa confortável posição intermediária, ou neutra (ainda descubro se tal posição existe) em relação a certos assuntos. Evitam a todo custo um posicionamento mais específico. Alguns creem tratar-se de uma virtude. Acordam todo dia sentido-se capazes de agradar a gregos e troianos. São chefes de seção acreditando que podem satisfazer, ao mesmo tempo, a direção e os operários. São professores universitários pensando que estão agradando a reitoria e os alunos. São reitores que expulsam alunos de “trajes inadequados”, e depois anulam a expulsão, numa tentativa de agradar a todo o mundo.

Bandas de garagem querem ressuscitar o punk, mas não querem que a mamãe os veja mal vestidos no YouTube. Estudantes fazem associações e grêmios estudantis, mas são inativos, limitando-se a festinhas de fim de ano, evitando conflitos por medo de perder alguns amiguinhos do Orkut. Gostos? Não se discute. Crenças? Não se discute. Política? Não se discute. O Século XXI parece com aquelas vovozinhas que vivem dizendo que “gostos, cores e amores, não se discute”, mas que ficam horrorizadas ao descobrirem que suas netinhas gostam de meninas.

Dizem que Paulo Coelho pode ser uma iniciação à leitura. De fato, pode. Mas, contabilizando, na minha pequena rede de relacionamentos (estudo, família e trabalho), ainda não há ninguém que tenha dado o “passo à diante”. A grande maioria dos que liam – e gostavam – de Paulo Coelho, hoje está lendo Augusto Cury, Zíbia Gasparetto, livrinhos que falam de diferenças entre homens e mulheres, Quem mexeu no meu queijo (ou salame, ou presunto, sei lá...). Alguns foram ao fundo do poço lendo A Bíblia da Esposa que Ora. Outros, lendo Herry Poter, acreditam que “qualidade literária” está relacionada com o “tamanho do livro”. Os que tentavam passar para textos mais pesados logo desistiam. “Esse livro é muito chato, aquele é muito difícil e daquele outro, não consegui entender nada...”

Em contrapartida, buscando na memória por meus amigos mais exigentes quanto aos livros que leem, reparei que aqueles colegas já eram seletivos ainda na escola. No Ensino Médio, ouvindo falar dos “mestres da literatura”, tinham curiosidade em conhecê-los. Iam à biblioteca, retiravam Fernando Pessoa, liam, não entendiam nada, mas não desistiam.

Fica a pergunta, principalmente aos educadores: Será que Paulo Coelho é válido como primeiro passo no mundo da literatura? Será que a quantidade de leitura importa mais do que a qualidade dos textos?

Somos representantes de uma época. Não queremos ofender a ninguém. Queremos agradar a todos. "Você gosta de Paulo Coelho? Tudo bem, ele pode abrir-lhe o caminho para a literatura. Gosta de Fernando Pessoa? Que bom, eu nunca li, mas se é poesia, deve ser bom. Gosta da Bíblia da esposa que ora? Sem problemas, o importante é sentir-se bem. Está lendo Crepúsculo? É bom, pois cativa os jovens...". Vivemos num tempo em que ninguém quer ser pedrinha no sapato de ninguém, e é natural que seja assim, afinal, isso dá prejuízo, não leva a nada e não faz ganhar nada. Cada um com os seus problemas. É tu na tua e eu na minha. Caminhando e cagabdo a turba segue.


Imagem: Josh Neuman