segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sobre Paulo Coelho (uma breve e provisória conclusão)

Representantes de uma época.

Há pessoas mais equilibradas, menos radicais, que preferem manter-se numa confortável posição intermediária, ou neutra (ainda descubro se tal posição existe) em relação a certos assuntos. Evitam a todo custo um posicionamento mais específico. Alguns creem tratar-se de uma virtude. Acordam todo dia sentido-se capazes de agradar a gregos e troianos. São chefes de seção acreditando que podem satisfazer, ao mesmo tempo, a direção e os operários. São professores universitários pensando que estão agradando a reitoria e os alunos. São reitores que expulsam alunos de “trajes inadequados”, e depois anulam a expulsão, numa tentativa de agradar a todo o mundo.

Bandas de garagem querem ressuscitar o punk, mas não querem que a mamãe os veja mal vestidos no YouTube. Estudantes fazem associações e grêmios estudantis, mas são inativos, limitando-se a festinhas de fim de ano, evitando conflitos por medo de perder alguns amiguinhos do Orkut. Gostos? Não se discute. Crenças? Não se discute. Política? Não se discute. O Século XXI parece com aquelas vovozinhas que vivem dizendo que “gostos, cores e amores, não se discute”, mas que ficam horrorizadas ao descobrirem que suas netinhas gostam de meninas.

Dizem que Paulo Coelho pode ser uma iniciação à leitura. De fato, pode. Mas, contabilizando, na minha pequena rede de relacionamentos (estudo, família e trabalho), ainda não há ninguém que tenha dado o “passo à diante”. A grande maioria dos que liam – e gostavam – de Paulo Coelho, hoje está lendo Augusto Cury, Zíbia Gasparetto, livrinhos que falam de diferenças entre homens e mulheres, Quem mexeu no meu queijo (ou salame, ou presunto, sei lá...). Alguns foram ao fundo do poço lendo A Bíblia da Esposa que Ora. Outros, lendo Herry Poter, acreditam que “qualidade literária” está relacionada com o “tamanho do livro”. Os que tentavam passar para textos mais pesados logo desistiam. “Esse livro é muito chato, aquele é muito difícil e daquele outro, não consegui entender nada...”

Em contrapartida, buscando na memória por meus amigos mais exigentes quanto aos livros que leem, reparei que aqueles colegas já eram seletivos ainda na escola. No Ensino Médio, ouvindo falar dos “mestres da literatura”, tinham curiosidade em conhecê-los. Iam à biblioteca, retiravam Fernando Pessoa, liam, não entendiam nada, mas não desistiam.

Fica a pergunta, principalmente aos educadores: Será que Paulo Coelho é válido como primeiro passo no mundo da literatura? Será que a quantidade de leitura importa mais do que a qualidade dos textos?

Somos representantes de uma época. Não queremos ofender a ninguém. Queremos agradar a todos. "Você gosta de Paulo Coelho? Tudo bem, ele pode abrir-lhe o caminho para a literatura. Gosta de Fernando Pessoa? Que bom, eu nunca li, mas se é poesia, deve ser bom. Gosta da Bíblia da esposa que ora? Sem problemas, o importante é sentir-se bem. Está lendo Crepúsculo? É bom, pois cativa os jovens...". Vivemos num tempo em que ninguém quer ser pedrinha no sapato de ninguém, e é natural que seja assim, afinal, isso dá prejuízo, não leva a nada e não faz ganhar nada. Cada um com os seus problemas. É tu na tua e eu na minha. Caminhando e cagabdo a turba segue.


Imagem: Josh Neuman

sábado, 28 de novembro de 2009

Sobre Paulo Coelho (II)






Em 2005 Paulo Coelho foi capa de três revistas de circulação nacional. Na mesma semana foi reportagem de capa do programa Fantástico, da Rede Globo. O curioso é que seus fãs garantem que isso tudo não é marketing - é reconhecimento pelo talento do mago. Sim, temos que ouvir essas baboseiras e aceitar como se aceita qualquer opinião. Tentar argumentar é inútil, pois toda e qualquer crítica é rebatida pelos fãs com a eterna falácia da inveja: "você tem inveja dele, por isso você critica!". Era só o que faltava, invejar um egocêntrico que se autodeclara "o maior intelectual do Brasil"!



Nosso alquimista da "literatura" anda meio quieto. Vamos ver quanto tempo demora para um novo golpe publicitário, ops... um novo reconhecimento pelo talento coelhano, que deve incluir a capa de duas ou três revistas, o Fantástico, o Jornal Nacional e talvez uma entrevista no programa da Ana Maria Braga (“tem coisas que o dinheiro não compra, para todas as outras...”). Isso tudo, como é de praxe, momentos antes do lançamento do último livro, que mesmo desconhecido, já será amado, elogiado e transformado em objeto de desejo pela imprensa semianalfabeta e interesseira, e seu respectivo público.
Com tamanha publicidade, até a mãe do Badanha faria sucesso...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre Paulo Coelho (I)

Comentário num fórum do Orkut:

"é mto melhor ler Joyce ou Kafka e não entender merda nenhuma do que ler a merda do PC e entender tudo..."


Hmm... nem só de merda vive o Orkut...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Atenção alunos: ACBF 4 x 2 Malwee. Prossigam a aula...


Nosso agente secreto, devidamente infiltrado na maior escola pública de Carlos Barbosa, noticiou um fato curioso: a interrupção da aula, através do sistema de alto-falantes, para informar aos alunos o resultado de uma partida de futebol. A temível e estrondosa voz da nobre diretora da instituição, desta vez fez-se doce para informar o que já não seria novidade para os torcedores mais fervorosos (que certamente estavam acompanhando o jogo de uma ou outra maneira), e que seria totalmente irrelevante para aqueles que, por ventura, não estivessem interessados (que, acreditem, existem).

“Atenção alunos! Atenção! Vimos informar que a ACBF venceu a Malwee por 4 a 2!. Repetimos: A ACBF venceu a Malwee por 4 a 2! Obrigada! Agora podem continuar a aula...”

Fatos corriqueiros (e aparentemente inocentes) como este, ilustram com maior ou menor precisão, certos mecanismos ou conceitos que, apesar da indiscutível presença em nossa sociedade, não são claramente visualizados no dia-a-dia.

O primeiro, e mais evidente, faz-nos lembrar de certos candidatos em ano eleitoral, quando a regra primeira é fazer tudo o que possa ser feito para agradar a “maioria”. Se levarmos em consideração as recentes discussões locais acerca do provimento do cargo de diretor daquela instituição, a semelhança torna-se mais evidente. É certo que noticiar qualquer acontecimento externo à aula aos alunos, mesmo sendo o resultado de uma partida de futebol, não constitui anormalidade em si, podendo ser até recomendável, desde que esteja em concordância com o projeto pedagógico da escola (dizem que isso existe!) de “interagir” com a comunidade, de “participar das realidades locais”, etc e etc. A estranheza está na novidade, no inusitado, uma vez que, conhecedores da escola que somos, sabemos que aquele ato nunca fora, até então, um procedimento de praxe. Parece o velho “pão e circo”, mas afinal, todos gostaram e isso é o que importa, certo?...

Também podemos observar e estudar a tal “crise da autoridade”, que é um dos assuntos da hora. Os alunos (refiro-me ao terceiro ano do ensino médio), como se fossem amebas incapazes de fazer duas coisas ao mesmo tempo, são expressamente proibidos de acompanhar um jogo pelo fone de ouvido do celular enquanto fazem os exercícios propostos na aula, mesmo que na vida adulta venham a enfurnar-se num escritório onde terão que executar 37 tarefas ao mesmo tempo. Assim, são proibidos de mascar chiclete, chupar balinhas e usar boné. São proibidos de ler uma mensagem de celular durante a aula. Questiono muito essas regrinhas, sobretudo quando elas tendem a misturar ética com regras puramente convencionadas, como as que versam sobre o uso do boné ou o consumo de chicletes, que normalmente são a pura expressão da opressão.

O opressor, para manter-se na posição opressiva, não pode dispor somente de regras baseadas na ética, precisa também de um amplo repertório de regras estúpidas que devem existir simplesmente para serem seguidas sem questionamentos. Nesse contexto, é natural afagar os ânimos das pessoas envolvidas utilizando pequenas recompensas, que podem ir de permissões e concessões, até a promessa de “vida eterna”. É o que fazem as empresas ao distribuírem estúpidos presentes de natal para seus funcionários no final de cada ano. É o que fazem as escolas ao satisfazer pequenos desejos futebolísticos de alunos que são proibidos até de ler um “torpedo” de duas linhas durante a aula. Em ambos os casos, fazem essas "concessões" para esconder o lado opressivo e autoritário, que salta aos olhos de qualquer um que se disponha a observar com mais atenção. Do alto do seu pedestal o opressor dita as regras, e ninguém questiona se elas são válidas ou se não passam da simples expressão do autoritarismo. Do alto do seu pedestal o opressor distribui migalhas de pão (disfarçadas de pepitas de ouro) para que seus subalternos permaneçam felizes, para que tudo permaneça como está, pelos séculos dos séculos. Do alto do seu pedestal, o opressor é unanimemente eleito, re-eleito e bajulado.

Por fim, é possível observar através desse exemplo, como pode se constituir uma minoria, e como essa minoria passa a ser atacada pelos que se reconhecem como pertencentes a “maioria”, os "corretos", os “com a razão” (vide caso da universitária do vestido curto). Como foi dito no início deste texto, o placar do futebol poderia não interessar a todos, e de fato, não interessou. Nosso correspondente infiltrado na escola sentiu-se constrangido e irritado por ter a apresentação do seu trabalho interrompida para que o restante da turma pudesse cantar o Hino da ACBF, mas como ele poderia manifestar seu desapreço sem ser alvo de olhares reprovadores? Com que autoridade irá o professor argumentar sobre a importância da educação para a sociedade se a própria direção da escola “invade” a sala de aula para injetar trivialidades? A democracia, apesar de ser o melhor sistema de que dispomos, não deixa de ser um sistema falho, e enquanto isso, do alto do seu pedestal, o opressor também determina quem está certo e quem está errado.

domingo, 1 de novembro de 2009

Halloween o caralho!!!

Só para lembrar: nós temos o "Dia do Saci"!
Daqui a pouco um gringo inventa o "dia de defecar nos calcanhares", e lá vamos nós...




segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Tinha que ser o Chaves...

Recentemente recebi um e-mail curioso intitulado "As coisas que aprendi assistindo o Chaves". A mensagem apresentava uma enorme lista e convidava o leitor a contribuir aumentando-a. Veja algumas:

* Seria muito melhor ter ido assistir o filme do Pelé.
* Jamais encoste em alguém que esteja tomando um choque.
* Pessoas bebem leite de burra.

* Existe uma fruta chamada tamarindo.
* "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena"

* Sempre tem alguém que rouba as moedas das fontes dos desejos.

* Se ver uma caveira num frasco, não beba.
* A brasília já foi carro de luxo.
* Existe um lugar chamado Tangamandápio.

Bem nostálgico, não?

Depois de uma breve pesquisa no GoogleDeus, descobri que a lista é antiga e encontrei uma dúzia de páginas e blogs com conteúdo praticamente igual (é a magia do ctrl+C e ctrl+V); listando também o que se aprende assistindo Chapolin, como por exemplo, falar tchuim-tchuim-flum-flai em Libras ou retornar à Terra utilizando o código universal SBBHQK.

Deixando de lado a filosofia copy/paste, não tenho receio de afirmar que Chapolin e Chaves foram os melhores programas importados pela televisão brasileira até hoje. Em meio a constante enxurrada de enlatados americanos, esses heróis mexicanos continuam vivos no imaginário de muita gente. Ninguém se importa em assistir mais uma vez o mesmo episódio, pelo contrário, ficamos torcendo para passar novamente este ou aquele episódio preferido. Tamanho sucesso talvez tenha a ver com um conceito simples: identidade. O que esses malditos seriados estadunidenses - que mostram o drama da família média norte-americana - pretendem encontrar aqui? A família politicamente correta, com um vizinho negro, o patriarca-executivo, a esposa dedicada, dois filhos-modelo e dois carros na garagem de um universo fingidamente maravilhoso? A televisão brasileira fede e continuará fedendo enquanto não parar com essa mania de querer moldar-nos à imagem e semelhança daquele deus tão venerado por ela.

Enquanto isso, telespectadores do mundo todo, uni-vos (mesmo que em torno do inútil)!



Origem da imagem: http://rabiscofinal.blogspot.com/2008/12/crtica-social-x-vcio-em-chaves-chapolin.html


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Só para lembar...

A notícia abaixo foi extraída do Obviuos (http://blog.uncovering.org/archives/2008/10/panico_ecologico_-_humanidade_precisara_de_dois_pl.html) e reproduzida na íntegra. Ela traz lembranças de velhas discussões que tínhamos no Ensino Médio acerca da inevitabilidade da nossa sociedade de consumo (o eterno "fazer o que? a vida é assim...").

"Com o actual ritmo de consumo dos recursos naturais do nosso planeta, segundo o relatório Planeta Vivo de há dois anos - responsabilidade da organização WWF, Sociedade Zoológica de Londres e da Global Footprint Network - precisaríamos de um segundo planeta por volta do ano 2050. Recentemente, re-avaliadas as diversas condicionantes desse estudo, iremos ter essa necessidade 20 anos antes, ou seja, em 2030. Acabamos de hipotecar o futuro dos nossos filhos, que por essa altura estarão a entrar para o marcado de trabalho, com um planeta completamente hipotecado caso não se faça algo muito urgentemente.


Mathis Wackernagel, director-executivo da Global Footprint Network, refere que satisfazer o actual nível de consumo da humanidade será "impossível" causando alterações graves no ecossistema global e ameaçando as bases económicas da actual sociedade global. A dificuldade em produzir recursos básicos irá fazer disparar o preço dos alimentos e da energia, causando uma crise à escala mundial.
Com base no relatório, estima-se que a humanidade tem uma pegada ecológica de cerca de 17.5 mil milhões de hectares globais, correspondendo a cerca de 2.1 hectares por pessoa, na prática, mais 31% do que a capacidade do planeta para reproduzir recursos naturais. Em termos simples, o planeta esta a demorar cerca de 1 ano e 3 meses para repor aquilo que a população global consome num único ano. Por este andar, temos mais 22 anos até ao colapso do ecossistema global.
Em 2005, os Estados Unidos e a China eram os países com maior pegada ecológica, cada um usando 21 por cento da biocapacidade do planeta. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pessoa precisa de 9,4 hectares, em média. Os Emirados Árabes Unidos é o país com a maior pegada ecológica per capita, com 9,5 hectares; a média na União Europeia é de 4,7 hectares.
Abaixo podemos ver a pegada ecológica do Brasil, onde os recursos naturais consumidos estão abaixo da capacidade de reposição. Simplificando, a linha laranja deve estar abaixo da linha azul, indicando um consumo abaixo da capacidade de produção.

Portugal, por seu turno, claramente acima no consumo face à sua capacidade de reposição, de resto uma tendência de toda a Europa.

A título de curiosidade, o mesmo gráfico para os Estados Unidos:

Fonte:http://blog.uncovering.org/archives/2008/10/panico_ecologico_-_humanidade_precisara_de_dois_pl.html



quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Entremeios

Há espaços de luz entre nós.
Espaços de corpos nus,
crucificados.

Mas se essa luz nos bastasse
seríamos canibais luminosos
devorando os olhos com os olhos.

Passeio

Andar pelas ruas é assim:
um ritual
amargo e democrático
pelo qual o mundo nos percebe
sem que o percebamos.
As pernas andando:
uma tesoura picotando
no papel da calçada as formas do ser,
segundo as sombras que traçamos.
Mas depois, pra onde vamos?

Entre o amor e o inesperado

Chegamos cedo
depois de tanto esperar.
Tonturas...
Pouca é a defesa,
grande é a loucura,
a indeferença do teu corpo
molhado e cru,
e o teu grito...
... teu grito tem o som das folhas secas de outono.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não, não é por dinheiro!

Vejam o que eu recebi no painel do blogspot logo após publicar a postagem abaixo:

Não, não é uma questão de dinheiro... deve ser um sinal de Deus para que eu me converta!

É de cair as bolas

E ainda há quem diga que "religião não se discute". Depois das denúncias contra Edir Macedo, não resisti e entrei no blog do sujeito (só para ver com que a cara de pau ele trataria do assunto). Encontrei um comentário de um fiel. Esse comentário mostra o quanto essas igrejas são poderosas no sentido de destruir o senso crítico das pessoas. É de dar medo.
Eu retirei o nome do autor, pois a intenção não é expor as pessoas, mas as ideias.

"Por: ----------------------------------

201

18th agosto, 2009 as 1:23

OLÁ BISPO MACEDO, SABEMOS QUE QUANDO O DIABO E SEUS REPRESENTANTES SE LEVANTAM CONTRA NÓS É SOMENTE PRA CAIR. O SENHOR É UMA BENÇÃO. UM ABRAÇO QUERIDO BISPO MACEDO E QUE DEUS O ABENÇOE SEMPRE."


Não sei se voltarei a ter uma ereção depois disso...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A semente e a árvore

Há alguns anos, no tempo do Windows 95, já era moda nos cursinhos de informática baixar fotos de carros da internet e colocar na área de trabalho. Os mais espertinhos davam uma "photoshopada" na imagem de maneira a "rebaixar" o carro, pintar os vidros de preto e coisas assim.

Na falta de computador, recortava-se um carro de alguma revista velha, e com muita habilidade na tesoura e no estilete (e mais um bocadinho de cola Tenaz) e conseguia-se transformar um Del-Rey 89 em um furioso modelo futurista de 400 HPs (dias atrás descobri que ainda se faz dessas...).

Bem, a gurizada do tempo do ICQ e do disquete cresceu, e hoje não brinca mais com computadores e figurinhas. Brincam com seus carrinhos de gente grande. E divertem-se muito, trocam informações, vídeos e fotos no Orkut, brigam tentando provar que são melhores do que seus inimigos. De vez em quando juntam-se para fazer alguma coisa mais séria, como levar o filho ao médico, jogar futebol ou providenciar outro filho.

Correntes filosóficas contemporâneas garantem que a onda do "tuning" começou (ao menos no Brasil) com o lançamento do filme Velozes e Furiosos. Faz sentido, porém, jamais nos esqueçamos dos nossos heróis pioneiros, com seus estiletes afiados, contrariando o papai e a mamãe, rebaixando as imagens da revista Quatro Rodas.

Mas nem todas as sementes viram árvores. Tenho que admitir que também gostaria de "tunar" meu carro . Felizmente, tenho mais o que fazer. Mesmo assim, se eu tivesse grana e tempo para entrar na brincadeira, gostaria que ele ficasse mais ou menos assim:


Iria usar somente para passear no Centro aos domingos!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Direito à preguiça

A leitura do Direito à preguiça, de Paul Lafargue, embora refirindo-se ao século XIX e à revolução industrial, soou extremamente atual, trazendo-me lembranças da amável Tramontina e da venerável Irwin, dois importantes parques industriais barbosenses ultramodernos.

Impressiona (não sei se deveria ou não) o fato dessas empresas, assim como todas as outras, apresentarem alguns caracteres muito semelhantes aos descritos no Direito à preguiça, mesmo depois de mais de um século. No caso específico do espaço industrial, do espaço onde se inserem os chamados "operários", os problemas perduram, tendo sido apenas travestidos com novas cores. O que chama a atenção é a compactuação dos próprios "explorados", que nesse contexto assumem as dores do "explorador", caindo sempre na mesma e inevitável falácia do "infelizmente é assim". Depois que algum líder ou chefe de seção atíra a pérola do "infelizmente é assim", os demais subalternos, em geral, complementam em coro com o refrão "vai fazer o que!" (talvez isso explique a moda de chamar os empregados de colaboradores). Ocasionalmente, algumas pessoas seguem a antiga jornada de quatorze horas diárias, sob o pretexto (legítimo) das contas a pagar. Só fazendo "serão"... Realmente muita coisa mudou. Lafargue que o diga.

Hoje o operário honesto e descente precisa dispor de dinheiro suficiente não só para sobreviver, mas também para consumir (consumir o que for possível, pois "infelizmente é assim, fazer o que!"), de preferência consumindo as inutilidades que a tecnologia renova a cada dia. Além disso, deve sobrar alguns trocados para uma diversão ilusória e para a também ilusória sensação de que poderá ascender socialmente, caso se disponha a economizar as migalhas e a trabalhar cada vez mais, apezar da concretização do "sonho" de Aristóteles (citado por Lafargue), que hoje o capitalismo transforma em piada.

Mesmo assim, o direito à preguiça é uma leitura interessante para todos os curiosos de plantão, operários que têm a impressão de que algo está errado, militantes ou simpatizantes de esquerda, ateus imorais e pervertidos, e desocupados em geral. Para ler a obra na íntegra clique aqui. E lembre-se: não deixe a mamãe saber que você lê essas coisas...



terça-feira, 21 de julho de 2009

Critérios

Não sei se as bibliotecas públicas de outras cidades interioranas, como Carlos Barbosa, fazem o mesmo; mas tenho me questionado sobre o porquê de autores como Zíbia Gasparetto, Rhonda Byrne e Paulo Coelho estarem posando em locais de destaque logo no entrada da biblioteca. Seriam os livros novos? Seriam os mais lidos? Ou ambos? Toda vez que subo aquelas escadas, essa dúvida me assola, mas nunca tive coragem de interrogar a bibliotecária sobre o assunto. Por que não estão lá Jorge Luiz Borges, Guimarães Rosa ou Kafka? Outro dia eu me atrevo, tenho medo da resposta...

Sim, talvez todas as bibliotecas façam isso, seguindo o exemplo das livrarias. Talvez as bibliotecas públicas tenham que satisfazer algum público ou algum cliente, o que explica o fato de nunca faltar uma verbinha para mais um Dan Brown. Deve ser alguma espécie de estatização do neoliberal.

Nossa cidade tem orgulho do tão aclamado "índice zero de analfabetismo". Tenho dúvidas, pois há notícia de alguns vovôs que mal sabem escrever o próprio nome. Também ouvi falar de adultos com sérias dificuldades para ler uma notícia de jornal. Esses não são importantes? Será que consideram somente as crianças em idade escolar? Realmente, preciso me informar sobre os critérios desse índice. Enquanto isso, é melhor não se orgulhar tanto...

Outros números que causaram furor foram os do Idese (índice de desenvolvimento socioeconômico), que colocaram o município em 8º lugar, sendo avaliados os indicadores de renda, saúde, educação e saneamento. Hum... Alguma vez alguém de fora já lhe disse que o pessoal daqui parece extremamente orgulhoso?

E as bibliotecas do primeiro parágrafo? Bem, de quando em quando seu silêncio é perturbado por algum fantasma a procura de algum livro, que no banco de dados da biblioteca também é um fantasma. O cemitério é mais frequentado. A biblioteca de um município tão saudável deveria ser mais visitada, não apenas por alunos do ensino fundamental (em busca de algum artigo do Wikipédia), mas por leitores adultos, cujo nível de leitura tenha crescido com os anos. Talvez eu esteja enganado. Talvez os critérios sejam outros.

E claro, existe outra possibilidade: com tão alto índice de desenvolvimento, é bem provável que os leitores estejam comprando os seus livros. Criteriosamente.
Como diria o Chaves: Ah, bom! Se é assim, sim!


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Retrocesso! Retrocesso!

Cansei. Acho que esse é o termo. Procure no google: "bolsa estupro". Não faltava mais nada: um "incentivo" para que a mulher vítima de estupro abra mão do seu (sofrido) direito ao aborto por alguns pila$.

Esse projeto de lei, que está em tramitação no Congresso, fixa um pagamento pelo estado de um salário mínimo mensal, durante dezoito anos, para a mulher vítima de estupro que não recorrer ao aborto.

Minha paciência acabou quando li algumas palavras, que preferi chamar de pérolas: "
se, no futuro, a mulher se casa e tem outros filhos, o filho do estupro costuma ser o preferido. Tem uma explicação simples na psicologia feminina: as mães se apegam de modo especial aos filhos que lhes deram maior trabalho". Isso está justificativa do projeto (como dizem os gaúchos, "carcule, então, o que virá...")

Outra pérola é o depoimento do deputado Luiz Bassuma (PT-BA): "A ciência está do nosso lado, pois a genética diz que a concepção acontece no primeiro minuto, a partir daí já é uma vida e vamos fazer de tudo para que ela seja respeitada". É um argumento muito esdrúxulo, pois a ciência não está nem de "um lado" nem de "outro"; depois ele fala em "respeitar a vida" quando propõe um projeto de lei que não respeita a mulher, não respeita a coletividade, não respeita ninguém, muito menos a vida, pois quem gera outro ser "sem querer" são os animais. O ser humano deveria, como ser racional, ter o direito de optar por gerar ou não outro ser humano.

A pérola maior fica por conta do deputado Henrique Afonso: "O aborto, para nós evangélicos, é um ato contra a vida em todos os casos, não importa se a mulher corre risco ou se foi estuprada", afirma o deputado. "Essa questão do Estado laico é muito debatida, tem gente que me diz que eu não devo legislar como cristão, mas é nisso que eu acredito e faço o que Deus manda, não consigo imaginar separar as duas coisas."

Isso mesmo, eles fazem o que Deus manda. Por isso nada mais natural do que impor sofrimento à mulher. Nada mais natural do que desejar que o ser humano mande às favas a sua racionalidade e se comporte como um animal, que é obrigado a colocar outro animal no mundo só porque o touro montou na vaca (mesmo se ela não quisesse). Também nada mais natural do que fingir que estupro não é nada, afinal, um estuprador só está fazendo o que Deus mandou: "crescei e multiplicai-vos".

terça-feira, 30 de junho de 2009

Viva Vítor e Léo (e que venham logo as borboletas)!



Beneméritos colegas alunos do Curso de Letras da UCS matam apresentação de seminário (marcada no início do semestre) para assistir show de Vitor e Léo em Bento Gonçalves.

Atenção Brasil, o futuro começa aqui. Nem sei que tipo de reação eu deveria ter ao olhar os rostos iluminados dessas futuras profes. Bom, pelo menos elas poderão dizer aos seus aluninhos que viram Vitor e Léo bem de pertinho. Se forem professoras do Ensino Médio, poderão relatar às mocinhas os diferentes tipos de tesão que sentiram ao ouvir Borboletas ao vivo. 

Me parece de ver: daqui uns anos, aquela velha lengalenga a respeito do salário do professor, das condições de trabalho, de não sei mais o que; e aquela meia dúzia “no meio do bolo” botando pilha e bancando as poderosas. Depois vem o discurso da importância do professor para a sociedade e etc. Que importância? Com essas amostras de professores estamos realmente mal representados. Não é por menos que o pessoal ri da categoria. Tem que rir mesmo.Tem um pessoal que consegue se formar na base de resumo de internet, que passa mais tempo em apresentações "artísticas" e no cabelereiro do que em sala de aula, mas que sabe reclamar quando a coisa vai mal.

Isso me troxe lembranças do meu ensino médio, de professores inescrupulosos que falavam verdadeiras abóboras. Tínhamos que engolir.

Ouvíamos por horas e horas um cara falando de um tal de Camões, embora (não sei como) tínhamos quase certeza de que ele nunca o havia lido. Para se ter uma ideia do estado das coisas, basta dizer que já ouvi professor de literatura dizendo que García Márquez é tão bom quanto Paulo Coelho (professor que provavelmente não deve ter ido além de Zíbia Gasparetto em suas leituras) , e coisas do gênero. Naquela época na existia Vítor & Léo, mas tínhamos Leandro & Leonardo...

Senhoras e senhores, peço desculpas, mas tinha que desabafar. Conheço muita gente que se empenha, que realmente quer produzir, quer conhecer e socializar ao máximo as experiências, para (como dizia P. Freire) tentar interferir na realidade, para ser sujeito da realidade, e não apenas objeto dela. Amo essas pessoas tanto quanto odeio outras, embora entenda a hipocrisia deste meu gesto e procure sorrir igual para todos. 
 
Obs.: Vitor e Léo, não é ruim; é só fugaz.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Solo de flauta


Adoro isso. Um ou outro músico mais maluco se apropria do tempo e do espaço da banda e do público e simplesmente deixa rolar. Cinco minutos, dez minutos de pura surpresa. Nesse ambiente, cada segundo que passa tem uma intensidade incrível, pois você simplesmente não faz ideia do que irá acontecer ou de como aquilo vai acabar. É tenso, fica-se esperando pela "volta ao normal". É a quebra do prosaico. Mas há quem não goste...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

1º de maio - dia do trabalhador

Segundo o Minidicionário de Latim da Porto Editora, trabalhar vem do latim laborare, que quer dizer esforçar-se com empenho. Também significa sofrer, estar com dificuldades. Isso quer dizer que sempre estive etimologicamente correto, mesmo sem saber. A equação é simples: Trabalho é igual ao Esforço multiplicado pelo Sofrimento (T=ES). A tradicional fórmula Trabalho igual à força multiplicada pelo deslocamento (T=Fd), das aulas de física, estava errada. Lamento, professor Betu.

É claro que dentro desse universo matemático existem controvérsias. Há quem queira elevar o sofrimento ao quadrado, ou multiplicar tudo por um novo fator: a culpa (o sentir-se culpado). É o que podemos constatar fazendo uma breve consulta aos murais das empresas ou às caixas de entrada de outlook, onde pipocam mensagens motivacionais convidando o leitor a refletir sobre o seu papel na crise econômica, com títulos do tipo "tire a bunda da cadeira", "faça a sua parte", e o poético "rise to the challenge".

Respondendo ao desafio. Que sonoridade! Que poético! Sim, estou respondendo ao desafio: já fui à Caixa Econômica Federal consultar meu FGTS (por via das dúvidas); já estou garimpando um novo empreguinho (de preferência numa padaria); já estou cortando despesas (para agilizar a faculdade), e estou juntando uns trocados para comprar o último disco da banda System of a Down (que ninguém diga que não ajudo a movimentar o mercado!). Estou só respondendo ao desafio. Isso tudo estou fazendo por mim. Pela empresa onde trabalho posso fazer muito mais: posso reduzir as idas ao banheiro a duas vezes por semana, posso levar água de casa e trabalhar o dia todo de pé economizando cadeiras e melhorando o visual do ambiente (você sabia que cientistas americanos descobriram que ficar oito horas por dia de pé, imóvel, faz bem para a saúde?). Estou tão grato por ter tido essa chance de compreender meus erros que posso até orar:

Senhor Capital, crucificado por minha culpa,
estou muito arrependido de ter feito pecado,
pois ofendi a vós que sois bom e amável.
Prometo, com a vossa graça, nunca mais pecar!
Meu Patrão, misericórdia!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Falta de verba tira motocross de Carlos Barbosa - grande coisa

Máquinas, sujeira e barulho. Tal qual o meu trabalho. O trinômio máquina-sujeira-barulho faz parte da rotina de boa parte da população desta cidade altamente industrializada. Para quem não conhece, vale lembrar: aqui tem Tramontina, (também tem 'zero de analfabetismo', embora os resultados da Provinha Brasil, mas esse é outro assunto), logo, nada mais natural do que motocross. Máquinas, sujeira e barulho.

Mas não é isso o que traz incômodo. Carlos Barbosa esteve presente no calendário do motociclismo da lama por pelo menos seis anos, e para evitar atritos tenho sido fiel àquela velha máxima que diz que os incomodados devem retirar-se. Tenho me retirado pontualmente. O que provoca incômodo é a importância atribuída a tal evento. A verba aprovada (de trinta mil reais, o que já é um absurdo) não foi o bastante. Canoas investiu 150 paus para "roubar-nos" a etapa de motocross. Será que valeu a pena? Deveríamos fazer um pedágio na rótula de Santa Clara para esmolar o resto?

Conforme o jornal Contexto, o presidente da Associação Barbosense de Motociclismo, Cláudio Chies, afirma que a Administração "poderia ter resolvido a situação (...)", e conclui: "(...) eu não vou me estressar mais. Se não tem dinheiro não tem prova e pronto. Quem perde é a serra".

Noooossa!!! Quem perde é a serra!!! Uau!!! Mas... perde o quê?

Tchau motocas voadoras!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Encenação da Paixão e Morte de Cristo - Fatos Reais

Está confirmado: 10 de abril às 16h.
Uma 'super produção' capaz de movimentar os mais de vinte mil habitantes-espectadores de Carlos Barbosa. Dá quase mais público do que filme do Homem-Aranha.

Dia dez de abril o barbosense irá vestir roupa bonita, irá à missa, perdoará o patrão, etc. Neste dia, poderemos encontrar pelo menos três gerações simultaneamente. Do velhinho à criancinha, todos estarão comovidos com o mesmo discurso precário, no qual alguns já não acreditam, mas obrigam seus filhos a acreditarem. Também se exorta as pessoas a participarem, atuarem como figurantes no evento. No final, todos serão exaltados, ufanados pelo povo. As minguadas críticas que nossa elite intelectual publicará dirão respeito ao calçado dos figurantes, que - onde já se viu - não poderia ser chinelo de dedo. Teria que ser sandália. De couro.

Deixemos de lado a hipocrisia. Eu mesmo já participei da encenação. Já fui 'soldado romano' (duas vezes) e também 'povo'. Sempre quis ser 'apóstolo', mas como a minha barba é muito ralinha, não foi possível. Mesmo assim, nos divertíamos muito. Até ateus podem se divertir com isso - os que têm estômago. Lembro-me de uma ocasião em que atuei como soldado. Nós aguardávamos escondidos a passagem de Jesus (depois da ceia, do julgamento e tals) para escoltarmos o dito cujo durante a subida do Calvário. Nesse ínterim, eis que surge uma garrafa de Del Grano. Um centurião convida-nos a beber enquanto aguardávamos o julgamento do Senhor. Bebemos muito. Reza a lenda que depois, na altura da primeira ou segunda queda, o centurião, emocionado com sua própria performance, acerta sem querer um relhaço no Cristo. Este grita (diferente de como gritava antes). O público delira. O centurião olha para nós, os soldados, e diz baixinho: "filha da puta, acertei Jesus."

Realmente muita coisa mudou em dois mil anos. Creio que os soldados romanos não trabalhavam semialcoolizados e nem se divertiam tanto. Também foi constatado que eles realmente não usavam chinelos de dedo, não blasfemavam, e como quer o Papa, não usavam preservativos.

Aos 'finalmentes':

Faz parte do nosso "jeito de viver" repetir atitudes sem sentido de forma cíclica. Só para ficar com alguns exemplos: Ano Novo, BBB, Carnaval, (...), Especial Roberto Carlos e Retrospectiva da Rede Globo. Essas coisas já devem estar no nosso DNA, ( talvez seja por isso que a Igreja Católica embirra tanto com questões abortivas e contraceptivas). Nada melhor do que encrustar quase que geneticamente padrões de condutas totalmente irracionais para manter as coisas "do jeito que estão". Nada pessoal, já que eu também tenho minha própria rotina diária de irracionalidades: trabalho, estudo, durmo, acordo, trabalho, estudo... Todos têm. É normal e real... De vez em quando quebro minha rotina me misturando às pessoas para participar ou assistir à encenação da Paixão de Cristo. Afinal, são fatos normais. Fatos reais.




quarta-feira, 18 de março de 2009

Questão de Ética


Por que não seguir o exemplo da AIG? Poderíamos premiar os trabalhadores menos produtivos. Na educação, poderíamos bonificar os professores que conseguirem ficar mais tempo falando besteiras para os alunos (se é que a Yeda já não pensou nisso). Poderíamos premiar estupradores que engravidam menininhas (desde que as mães das meninas sejam excomungadas) e finalmente, na indústria, poderíamos presentear executivos falidores de empresas com empresas novas, estatais fresquinhas.

Agora, falando sério. Me recuso a entrar nesse discurso de que isso é um escândalo, aquilo é um absurdo, etc.. Chamar o caso da AIG de escândalo, até Obama já fez... Absurdo mesmo é constatar que existem pessoas (bem pertinho de nós, assalariados, consumidores de cigarro avulso) pregando que a AIG tem mais é que cumprir os seus contratos e pagar os bônus. Questão de ética.

Somos todos santos.

domingo, 15 de março de 2009

Primeiro post


Talvez Freud possa explicar coisas assim. Talvez não. Mas de fato, edifícios e antenas de transmissão são sempre motivos de orgulho, não importa o que contenham ou transmitam. Tem sido assim desde os tempos de Babel, acredite...
E o tempo passa rápido. Depois de Babel veio a imprensa, o papel (e a bíblia impressa nele), o café expresso e o excesso de sal na sopa. Milhares de anos foram poucos para tanto progresso. Passamos da falta ao excesso, e agora temos excesso de ambos (exceto de sexo, ao que parece, e de prosa poética).
Enquanto a poesia não vem e a prosa rasteja, o mundo gira veloz. Nos edifícios babilônicos de hoje os televisores iluminam os passos, as antenas transmitem as regras, e o Faustão alegra os domingos. Sejamos prosaicos então...